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O que significa o número 666 do livro de Apocalipse?

  • Foto do escritor: devaciribeirosilva
    devaciribeirosilva
  • 13 de jun. de 2020
  • 4 min de leitura

Atualizado: 22 de jun. de 2020

Seria o símbolo numérico 666 uma menção a algo do passado ou se refere a algo do por vir?

A sequência numérica 666 intriga muitas pessoas, sejam elas cristãs ou não cristãs. A sua possível associação aos planos obscuros de um tirano que tomará as rédeas de uma conturbada nova ordem mundial, tece fios sombrios na teia do imaginário de muitas pessoas. Mas que significado esse número preserva? As hipóteses destinadas a tentar explicar seu enigma são profusas e interessantes. Trataremos de uma delas neste artigo.

Um número que, caso não seja gravado na testa ou na mão das pessoas, as impede de comprar ou vender. Se negue a ser marcado e passará por necessidades severas.

A passagem bíblica em questão é Apocalipse 13:18, e o contexto que a contorna nos informa a respeito de uma "besta que saiu da terra". Quem é essa besta? E o que o número 666 tem a ver com ela?


A besta

Mais uma vez é importante ressaltar que, para a interpretação desta passagem bíblica há inúmeras hipóteses concorrentes e selecionamos uma abordagem preterista para tentar explicá-la. Não pretendemos fazer apologia à tal modelo de interpretação, mas buscamos apresentá-lo como uma abordagem alternativa.


No português a palavra besta é encontrada em expressões tais como "besta-fera" e geralmente assume papéis metafóricos em contextos distintos. Originada do antigo francês, a palavra era bastante usada quando surgiram traduções básicas da Bíblia, tais como a versão "King James", enquanto a palavra animal, mais moderna, ainda não fazia parte do vocabulário popular e não era muito conhecida antes do final do séc. 16. O vocábulo, no original grego que dá origem à tradução "besta", é traduzido também como "animal" e como "seres viventes" em Hebreus 13.11 e em Apocalipse 4, respectivamente (TENNEY et al, 2008).


Qualquer que tenha sido o significado mais original do vocábulo, no contexto de Apocalipse 13 ele é empregado para se referir à monstruosidade de uma determinada autoridade política, como uma metáfora para se referir à postura desumana que tal autoridade exerceria ou estaria a exercer. Um homem rude, capaz de cometer atos absurdos, deveria ser considerado, no mínimo, um animal, um monstro, uma besta. Embora não haja menções explícitas no texto de quem seja esse governante e em que época seu governo foi ou será estabelecido, há boas pistas se olharmos para o contexto e para o tempo em que o livro de Apocalipse foi escrito.


O número do seu nome

Olhando para o contexto em que o livro de Apocalipse foi escrito, nos deparamos com uma antiga prática entre os rabinos de fazer cálculos utilizando letras do alfabeto hebraico. Essa prática era conhecida como gematria. Nela, cada letra correspondia a um número, e então, cada nome ou palavra hebraicos também tinha uma correspondência numérica. É bem provável que os leitores de João tinham acesso ao significado do número 666, possivelmente por meio desse recurso.


Devido ao contexto de perseguição irrogado pelo império romano aos cristãos no provável período de composição do livro (final do século I), muito do que era dito pelo autor aos primeiros destinatários devia ser escrito de forma recôndita e simbólica com a finalidade de manter sigilo nas questões concernentes ao império. Assim, evitava-se o risco de mais perseguição e sofrimento aos leitores cristãos. Ao se referir a uma autoridade do império, o autor bem poderia ter lançado mão do recurso da gematria para fazer a menção desejada.


Deste modo, algumas possibilidades começam a surgir. Como esse post está lidando especificamente com uma abordagem preterista, especulações atinentes à figuras mais modernas, entre elas Hitler e Mussolini, serão descartadas e olharemos para a época da composição do livro. Entre os imperadores romanos que infligiram sérias perseguições aos cristãos e cujo nome transliterado do grego para o hebraico daria o cálculo numérico 666 está o imperador Nero. Seu nome em grego, Neron Kaisar, se encaixa perfeitamente dentro do cálculo.


Nero ficou conhecido por infligir severas perseguições aos cristãos, levando muitos a serem executados no Coliseu ao serem devorados por feras (apesar de muitos cristãos terem sido executados de outras formas bizarras). Além disso, há muitos relatos sobre as posturas desumanas e egoístas que Nero assumiu no seu governo, tais como mandar matar a própria mãe e ter provocado um incêndio que danificou mais de dois terços da cidade de Roma, responsabilizando, em seguida, os cristãos por tal ato. Uma figura como essa, era no mínimo considerada um monstro, uma besta, para os leitores primevos de João.





Dificuldades em concluir que Nero é a besta a partir do 666

As principais dificuldades para fazer valer a correspondência do nome de Nero ao número 666 são listadas a seguir:

  1. O forma latina do nome de Nero não totaliza 666;

  2. A soletração mais frequente do nome de Nero em hebraico resulta na correspondência numérica 676 devido ao acréscimo da letra yôd;

  3. É preciso conjecturar que era comum a transliteração de nomes gregos para o hebraico e que tais transliterações poderiam ser usadas para realizar conexões na gematria. Isso é algo sobre o qual não há amplo consenso entre os estudiosos;

  4. É preciso assumir que havia judeus cristãos o suficiente nas congregações que pudessem esclarecer as práticas de gematria;

  5. A ausência de interpretação do número 666 entre os pais apostólicos. Estes foram grandes estudiosos e mestres cristãos no contexto cristianismo primevo.

Nas palavras de Grant Osborne, teólogo e comentarista do livro de Apocalipse, "a melhor opção é Nero, mas ela não passa de uma possibilidade tentadora". Ainda assim, dentro desse contexto, o imperador Nero é a mais forte possibilidade.


Concluindo

O livro de Apocalipse foi escrito para consolar e encorajar os cristãos do século primeiro a serem perseverantes mesmo diante das tribulações pelas quais passavam. Sendo assim, detalhes como o número 666, deveriam ocupar uma posição periférica dentro do nosso imaginário sobre aquilo que realmente importa quando lemos esse livro.


Mesmo que a besta seja Nero, este é também um retrato de várias figuras de anticristo que apareceram e ainda poderão aparecer na história. Mas os cristãos devem continuar firmes e perseverantes em sua fé, não importa qual seja o próximo Nero que a história venha ou não revelar.


Referências bibliográficas:

CHAMPLIN, Russel Norman. O Novo Testamento interpretado, versículo por versículo. - 2ª ed - São Paulo: Hagnos, 2001.

COLLINS, John J. A imaginação apocalíptica: Uma introdução à literatura apocalíptica judaica. São Paulo: Paulus, 2010.

OSBORNE, Grant. R. Apocalipse: comentário exegético. São Paulo: Vida Nova, 2014.

VÁRIOS AUTORES. Enciclopédia da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.







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